Universidade Federal do ABC
e-mail: leandropereiratosta@gmail.com
Resumo
Os meios que levam a origem ou a extinção de várias espécies de seres vivos podem ser classificados em eventos aleatórios ou dirigidos por seleção natural. Este breve ensaio enfatiza o processo aleatório, ou seja, aquele que não é conduzido pela seleção natural, para formação de linhagens biológicas ao longo da história terrestre.
Palavras-chave: acaso, aleatório, bactérias, Darwin, evolução, seleção natural.
“Essa é uma visão grandiosa da vida”
Charles Darwin em Origem das Espécies (1859)
Sobre a história
O decorrer da vida sobre a terra deve ser considerado como uma grande sucessão de eventos que moldam grupos de organismos no tocante à evolução, não relacionados somente à seleção natural. Deve-se ponderar que nem sempre alterações no padrão original apresentado por um grupo de seres vivos são benéficas e repassadas aos descendentes por meio de reprodução. É, portanto, de extrema importância analisar que grande parte dos eventos alteradores do “estrato” natural de uma parcela de organismos é meramente aleatória.
Charles Darwin já previa, em “A Origem das Espécies”, que processos diferentes da seleção natural eram também responsáveis pela formação físico-química que um organismo poderia apresentar. Infelizmente, o frenesi criacionista aponta tais processos como pertencentes a um “toque divino”, um “design inteligente”. Porém, é sabido que a afirmação de Darwin diz respeito a processos não convencionais que podem modificar o meio em que um grupo de organismos esteja inserido e, consequentemente, o modo de vida dos mesmos.
Para fins didáticos, é válido citar um pequeno exemplo. Têm-se vários indivíduos de uma espécie de formigas em um determinado local. Caso venha faltar recursos para manutenção dos formigueiros, é de se esperar que os organismos que possuírem características vantajosas no tamanho, na organização social ou que apresentem estruturas mais bem desenvolvidas, sejam selecionados, procriem e promovam a dispersão de descendentes possuidores de características semelhantes às dos mais bem adaptados.
Entretanto se, ao acaso, houver uma inundação que assole vários formigueiros, independentemente das formigas possuírem estruturas mais bem adaptadas à região, aquelas que tiverem seus formigueiros construídos em partes mais altas, tendem a sobreviver.
A posição do homem
Desde a “explosão do Cambriano”, 530 milhões de anos atrás, a diversidade biológica tem aumentado em decorrência de processos climáticos e/ou geológicos essencialmente aleatórios. É um “rude vício” tentar classificar linearmente os seres vivos, como fazia o naturalista do século XVIII Buffon e especialmente autores anteriores a ele, colocando o ser humano no topo da cadeia. Não se deve pensar na evolução como um processo que apenas direcione o ser vivo para condições de aumento de complexidade, considerando o homem como ápice evolutivo.
Hoje se sabe que o mundo é dominado por bactérias. Não há nenhuma outra criatura tão resistente e versátil que apresente tantos habitats e nichos ecológicos a ponto de ser encontrada em quase todos os ambientes. O evolucionista S.J. Gould, em seus artigos, lembra-nos que há mais indivíduos bacterianos presentes no intestino humano do que a somatória da quantidade total de humanos que já habitaram a terra. Assim, diferentemente dos que é ensinado nas escolas, em que se convenciona posicionar o homem como o mais evoluído dos organismos, o ser humano é apenas uma parte, muito sensível, dos seres vivos terrestres que sobreviveram a eventos, por muitas vezes aleatórios, que poderiam ter levado seus ancestrais à extinção. O que difere o homem dos muitos outros seres vivos encontrados na atualidade é a presença de consciência, que talvez seja mesmo obra do acaso.
É importante ressaltar que não existe uma progressão linear no decorrer da história da vida. Muitos dos acontecimentos, tais como a formação de seres pensantes, são decorrentes de processos aleatórios e sem a participação da seleção natural. Deve-se também criticar de forma racional as concepções errôneas de que os seres humanos são organismos mais bem inseridos no meio natural do que outros e que a origem de novas espécies é previsível e ordenada de modo linear em um caminho único de otimização evolutiva.
Agradecimento
Agradeço ao doutor e amigo Charles Morphy Dias do Santos (UFABC) e à doutora Ana Carolina Santos de Souza Galvão (UFABC) pelas substanciais motivações e apoio técnico. Agradeço também ao incentivo universitário PDPD, concedido na forma de bolsa, para o desenvolvimento deste ensaio.
Referências bibliográficas
-Gould,S.J. A imprevisível e fortuita evolução da vida. Scientific American Brasil, Especial - História da Evolução, p. 64-75; 1998.
-Santos, C.M.D. Os Dinossauros de Hennig: sobre a importância do monofiletismo para sistemática biológica. Scientiae Studia, 6(2), p. 179-200; 2008.
-Scott, G.B.E.C. Manobras mais Recentes do Criacionismo. Scientific American Brasil Especial - A Evolução da Evolução, 81, p. 82-89; 2009.
-Stix, G. O Legado Vivo de Darwin. Scientific American Brasil Especial - A Evolução da Evolução, 81, p. 26-31; 2009.
e-mail: leandropereiratosta@gmail.com
Resumo
Os meios que levam a origem ou a extinção de várias espécies de seres vivos podem ser classificados em eventos aleatórios ou dirigidos por seleção natural. Este breve ensaio enfatiza o processo aleatório, ou seja, aquele que não é conduzido pela seleção natural, para formação de linhagens biológicas ao longo da história terrestre.
Palavras-chave: acaso, aleatório, bactérias, Darwin, evolução, seleção natural.
“Essa é uma visão grandiosa da vida”
Charles Darwin em Origem das Espécies (1859)
Sobre a história
O decorrer da vida sobre a terra deve ser considerado como uma grande sucessão de eventos que moldam grupos de organismos no tocante à evolução, não relacionados somente à seleção natural. Deve-se ponderar que nem sempre alterações no padrão original apresentado por um grupo de seres vivos são benéficas e repassadas aos descendentes por meio de reprodução. É, portanto, de extrema importância analisar que grande parte dos eventos alteradores do “estrato” natural de uma parcela de organismos é meramente aleatória.
Charles Darwin já previa, em “A Origem das Espécies”, que processos diferentes da seleção natural eram também responsáveis pela formação físico-química que um organismo poderia apresentar. Infelizmente, o frenesi criacionista aponta tais processos como pertencentes a um “toque divino”, um “design inteligente”. Porém, é sabido que a afirmação de Darwin diz respeito a processos não convencionais que podem modificar o meio em que um grupo de organismos esteja inserido e, consequentemente, o modo de vida dos mesmos.
Para fins didáticos, é válido citar um pequeno exemplo. Têm-se vários indivíduos de uma espécie de formigas em um determinado local. Caso venha faltar recursos para manutenção dos formigueiros, é de se esperar que os organismos que possuírem características vantajosas no tamanho, na organização social ou que apresentem estruturas mais bem desenvolvidas, sejam selecionados, procriem e promovam a dispersão de descendentes possuidores de características semelhantes às dos mais bem adaptados.
Entretanto se, ao acaso, houver uma inundação que assole vários formigueiros, independentemente das formigas possuírem estruturas mais bem adaptadas à região, aquelas que tiverem seus formigueiros construídos em partes mais altas, tendem a sobreviver.
A posição do homem
Desde a “explosão do Cambriano”, 530 milhões de anos atrás, a diversidade biológica tem aumentado em decorrência de processos climáticos e/ou geológicos essencialmente aleatórios. É um “rude vício” tentar classificar linearmente os seres vivos, como fazia o naturalista do século XVIII Buffon e especialmente autores anteriores a ele, colocando o ser humano no topo da cadeia. Não se deve pensar na evolução como um processo que apenas direcione o ser vivo para condições de aumento de complexidade, considerando o homem como ápice evolutivo.
Hoje se sabe que o mundo é dominado por bactérias. Não há nenhuma outra criatura tão resistente e versátil que apresente tantos habitats e nichos ecológicos a ponto de ser encontrada em quase todos os ambientes. O evolucionista S.J. Gould, em seus artigos, lembra-nos que há mais indivíduos bacterianos presentes no intestino humano do que a somatória da quantidade total de humanos que já habitaram a terra. Assim, diferentemente dos que é ensinado nas escolas, em que se convenciona posicionar o homem como o mais evoluído dos organismos, o ser humano é apenas uma parte, muito sensível, dos seres vivos terrestres que sobreviveram a eventos, por muitas vezes aleatórios, que poderiam ter levado seus ancestrais à extinção. O que difere o homem dos muitos outros seres vivos encontrados na atualidade é a presença de consciência, que talvez seja mesmo obra do acaso.
É importante ressaltar que não existe uma progressão linear no decorrer da história da vida. Muitos dos acontecimentos, tais como a formação de seres pensantes, são decorrentes de processos aleatórios e sem a participação da seleção natural. Deve-se também criticar de forma racional as concepções errôneas de que os seres humanos são organismos mais bem inseridos no meio natural do que outros e que a origem de novas espécies é previsível e ordenada de modo linear em um caminho único de otimização evolutiva.
Agradecimento
Agradeço ao doutor e amigo Charles Morphy Dias do Santos (UFABC) e à doutora Ana Carolina Santos de Souza Galvão (UFABC) pelas substanciais motivações e apoio técnico. Agradeço também ao incentivo universitário PDPD, concedido na forma de bolsa, para o desenvolvimento deste ensaio.
Referências bibliográficas
-Gould,S.J. A imprevisível e fortuita evolução da vida. Scientific American Brasil, Especial - História da Evolução, p. 64-75; 1998.
-Santos, C.M.D. Os Dinossauros de Hennig: sobre a importância do monofiletismo para sistemática biológica. Scientiae Studia, 6(2), p. 179-200; 2008.
-Scott, G.B.E.C. Manobras mais Recentes do Criacionismo. Scientific American Brasil Especial - A Evolução da Evolução, 81, p. 82-89; 2009.
-Stix, G. O Legado Vivo de Darwin. Scientific American Brasil Especial - A Evolução da Evolução, 81, p. 26-31; 2009.