por Anna Carolina Russo
Universidade Federal do ABC
e-mail: annacarolinarcm@gmail.com
Resumo
Durante a história da ciência, o conceito de evolução foi se modificando gradualmente. O texto discorrerá brevemente sobre tais modificações desde seu ponto de partida, com Lamarck, passando por Darwin, principal nome do evolucionismo, até chegar às teorias atuais que unem embriologia, desenvolvimento e paleontologia.
Palavras-chave: Darwin, evo-devo, evolução, ontogenia, genes.
Ao longo da história o conceito de evolução foi se modificando gradativamente. Um dos primeiros a discutir sobre o assunto foi o francês Jean-Baptiste de Lamarck, que lançou sua teoria da evolução no auge do Iluminismo na Europa. Em sua teoria estava descrito que os animais modificavam partes de seu corpo através do uso contínuo. Quanto mais se utilizava determinado órgão, mais ele se desenvolvia. Essa nova característica seria passada, a partir de então, para seus descendentes. Essa visão de Lamarck sobre as espécies foi de extrema importância ao propor uma perspectiva alternativa às visões criacionistas que estavam estagnadas, porque, apesar de Lamarck também ser um criacionista, via a possibilidade de mudanças nas espécies. O estudo das alterações entre as espécies antes não era feito pelos naturistas, mais preocupados somente em classificá-las.
Em meados do século XIX, Darwin e Wallace surgiram com a teoria da evolução, a qual diz que essas mudanças nas espécies não surgem pelo uso e desuso de órgãos, mas sim naturalmente, perpetuando-se através da seleção natural. A seleção natural é uma condição imposta pelo meio, submetendo as espécies a um processo de “filtragem” no qual os organismos mais aptos sobrevivem e podem passar suas características aos seus descendentes. Mais tarde, com o conhecimento da biologia molecular a partir de 1930, os cientistas puderam corroborar essa teoria, complementando que as características eram mantidas nos descendentes através da passagem de seu material genético, e que as modificações surgiam a partir de mutações e recombinações desse material genético.
Hoje se sabe que esse material pode ser passado de duas maneiras: uma na qual ele é transmitido do ancestral comum para seus descendentes no sentido genealógico (evolução vertical), como pode ser visto na árvore da vida esboçada por Darwin em seu livro “A Origem das Espécies”, em 1859; e outra em que pode acontecer a migração de parte do material genético entre indivíduos que se localizam em uma mesma “fatia” de tempo, como ocorre entre as bactérias na base da árvore da vida, de forma horizontal, ou seja, no mesmo período cronológico (transferência horizontal).
Nesse sentido, evolução corresponde às modificações de uma população ao longo da história, tendo sempre em visita um ancestral comum e seus descendentes.
Como já foi dito, o salto da evolução para seu grande reconhecimento como teoria que explica o mundo vivo deu-se com o aparecimento da biologia molecular, que teve seu início com a descoberta do DNA por Watson e Crick. Desta forma, a ciência conseguiu fundamentar as teorias de Darwin e Wallace, pois antes não sabia como aparecia a diversidade das espécies. Como poderiam existir espécies de pássaros com bico mais alongado e outras com bico mais curto? Com essa descoberta da estrutura do DNA e do gene pode-se afirmar que essas modificações aconteciam ao longo do tempo através de mutações genéticas que causassem modificações fenotípicas viáveis para vida. Hoje se sabe que essas mudanças muitas vezes não são no filamento de DNA em si, mas sim nos fatores de transcrição expressos por determinados genes, que servirão de “interruptor” para dizer qual parte do filamento será transcrito. Mudanças nesses fatores de transcrição podem causar mudanças no fenótipo das espécies, o que levará a variedade entre as populações descrita por Darwin.
Algumas vezes essas mudanças genéticas podem afetar o desenvolvimento de certas espécies, quando, por exemplo, atingem genes homeóticos. Estes tipos de genes estão interligados com outros genes responsáveis pela codificação de expressões fenotípicas de um animal tais como a segmentação e o aparecimento de apêndices locomotores. Dessa forma, uma mutação em um gene homeótico pode levar a mudança de seu fenótipo, que, por sua vez, pode ter conseqüências na expressão de outros genes que não sofreram a mutação.
O desenvolvimento de um indivíduo, ou ontogenia, se dá através das alterações morfológicas que ele sofre durante sua vida. Podemos citar a ontogenia de uma borboleta, que começa com a fusão de gametas formando um zigoto, que formará um embrião, passando por sucessivos estágios de larva que se tornará uma pupa até se transformar em um adulto. Uma mutação em um gene que altere algum estágio desse desenvolvimento poderá levar a grandes mudanças em seu estágio final. Dependendo do grau dessa alteração, o organismo pode tornar-se inviável à vida (nesse contexto devemos entender as restrições de desenvolvimento).
Restrição de desenvolvimento acontece quando há uma mutação que não é viável à vida. Isso acontece porque o gene mutado provavelmente tinha ligação com outros genes, influenciando a expressão dos mesmos. Por exemplo, em um inseto, se um gene homeótico “A” que expressa apêndices torácicos, asas e segmentação sofrer uma mutação, levando à expressão de quatro ao invés de três pares de apêndices locomotores. Provavelmente essa mutação alterará a expressão das outras características que também relacionadas ao mesmo gene, tornando o organismo inviável à vida. Isso porque o fator de transcrição que daria início à codificação de determinado gene, também serviria de “interruptor” para os genes que transcrevem a antena, asas e segmentação. A modificação de um gene pode alterar a expressão de uma série de características.
A análise do desenvolvimento nos permite compreender a evolução das espécies por outra perspectiva, isso porque a biodiversidade decorre em grande parte por mudanças em genes que afetarão seu desenvolvimento. O estudo dessa frente da biologia é conhecida como “evo-devo”, ou biologia evolutiva do desenvolvimento, que segundo o evolucionista Sean B. Carroll “possibilitam grandes revelações sobre os genes invisíveis e algumas regras simples que moldam a forma e a evolução animal”.
Referências bibliográficas
- Carroll, S.B. Infinitas formas de grande beleza: como a evolução forjou a grande quantidade de criaturas que habitam o nosso planeta. Editora Jorge Zahar, 2005.
- El-Hani, C. N., Meyer, D. A evolução da teoria Darwiniana. Scientific American Brasil Especial - Especial História da evolução, 2007.
- Motoyama, S. O nascimento da evolução biológica. Scientific American Brasil Especial - Especial História da evolução, p 45 – 53, 2007.
Universidade Federal do ABC
e-mail: annacarolinarcm@gmail.com
Resumo
Durante a história da ciência, o conceito de evolução foi se modificando gradualmente. O texto discorrerá brevemente sobre tais modificações desde seu ponto de partida, com Lamarck, passando por Darwin, principal nome do evolucionismo, até chegar às teorias atuais que unem embriologia, desenvolvimento e paleontologia.
Palavras-chave: Darwin, evo-devo, evolução, ontogenia, genes.
Ao longo da história o conceito de evolução foi se modificando gradativamente. Um dos primeiros a discutir sobre o assunto foi o francês Jean-Baptiste de Lamarck, que lançou sua teoria da evolução no auge do Iluminismo na Europa. Em sua teoria estava descrito que os animais modificavam partes de seu corpo através do uso contínuo. Quanto mais se utilizava determinado órgão, mais ele se desenvolvia. Essa nova característica seria passada, a partir de então, para seus descendentes. Essa visão de Lamarck sobre as espécies foi de extrema importância ao propor uma perspectiva alternativa às visões criacionistas que estavam estagnadas, porque, apesar de Lamarck também ser um criacionista, via a possibilidade de mudanças nas espécies. O estudo das alterações entre as espécies antes não era feito pelos naturistas, mais preocupados somente em classificá-las.
Em meados do século XIX, Darwin e Wallace surgiram com a teoria da evolução, a qual diz que essas mudanças nas espécies não surgem pelo uso e desuso de órgãos, mas sim naturalmente, perpetuando-se através da seleção natural. A seleção natural é uma condição imposta pelo meio, submetendo as espécies a um processo de “filtragem” no qual os organismos mais aptos sobrevivem e podem passar suas características aos seus descendentes. Mais tarde, com o conhecimento da biologia molecular a partir de 1930, os cientistas puderam corroborar essa teoria, complementando que as características eram mantidas nos descendentes através da passagem de seu material genético, e que as modificações surgiam a partir de mutações e recombinações desse material genético.
Hoje se sabe que esse material pode ser passado de duas maneiras: uma na qual ele é transmitido do ancestral comum para seus descendentes no sentido genealógico (evolução vertical), como pode ser visto na árvore da vida esboçada por Darwin em seu livro “A Origem das Espécies”, em 1859; e outra em que pode acontecer a migração de parte do material genético entre indivíduos que se localizam em uma mesma “fatia” de tempo, como ocorre entre as bactérias na base da árvore da vida, de forma horizontal, ou seja, no mesmo período cronológico (transferência horizontal).
Nesse sentido, evolução corresponde às modificações de uma população ao longo da história, tendo sempre em visita um ancestral comum e seus descendentes.
Como já foi dito, o salto da evolução para seu grande reconhecimento como teoria que explica o mundo vivo deu-se com o aparecimento da biologia molecular, que teve seu início com a descoberta do DNA por Watson e Crick. Desta forma, a ciência conseguiu fundamentar as teorias de Darwin e Wallace, pois antes não sabia como aparecia a diversidade das espécies. Como poderiam existir espécies de pássaros com bico mais alongado e outras com bico mais curto? Com essa descoberta da estrutura do DNA e do gene pode-se afirmar que essas modificações aconteciam ao longo do tempo através de mutações genéticas que causassem modificações fenotípicas viáveis para vida. Hoje se sabe que essas mudanças muitas vezes não são no filamento de DNA em si, mas sim nos fatores de transcrição expressos por determinados genes, que servirão de “interruptor” para dizer qual parte do filamento será transcrito. Mudanças nesses fatores de transcrição podem causar mudanças no fenótipo das espécies, o que levará a variedade entre as populações descrita por Darwin.
Algumas vezes essas mudanças genéticas podem afetar o desenvolvimento de certas espécies, quando, por exemplo, atingem genes homeóticos. Estes tipos de genes estão interligados com outros genes responsáveis pela codificação de expressões fenotípicas de um animal tais como a segmentação e o aparecimento de apêndices locomotores. Dessa forma, uma mutação em um gene homeótico pode levar a mudança de seu fenótipo, que, por sua vez, pode ter conseqüências na expressão de outros genes que não sofreram a mutação.
O desenvolvimento de um indivíduo, ou ontogenia, se dá através das alterações morfológicas que ele sofre durante sua vida. Podemos citar a ontogenia de uma borboleta, que começa com a fusão de gametas formando um zigoto, que formará um embrião, passando por sucessivos estágios de larva que se tornará uma pupa até se transformar em um adulto. Uma mutação em um gene que altere algum estágio desse desenvolvimento poderá levar a grandes mudanças em seu estágio final. Dependendo do grau dessa alteração, o organismo pode tornar-se inviável à vida (nesse contexto devemos entender as restrições de desenvolvimento).
Restrição de desenvolvimento acontece quando há uma mutação que não é viável à vida. Isso acontece porque o gene mutado provavelmente tinha ligação com outros genes, influenciando a expressão dos mesmos. Por exemplo, em um inseto, se um gene homeótico “A” que expressa apêndices torácicos, asas e segmentação sofrer uma mutação, levando à expressão de quatro ao invés de três pares de apêndices locomotores. Provavelmente essa mutação alterará a expressão das outras características que também relacionadas ao mesmo gene, tornando o organismo inviável à vida. Isso porque o fator de transcrição que daria início à codificação de determinado gene, também serviria de “interruptor” para os genes que transcrevem a antena, asas e segmentação. A modificação de um gene pode alterar a expressão de uma série de características.
A análise do desenvolvimento nos permite compreender a evolução das espécies por outra perspectiva, isso porque a biodiversidade decorre em grande parte por mudanças em genes que afetarão seu desenvolvimento. O estudo dessa frente da biologia é conhecida como “evo-devo”, ou biologia evolutiva do desenvolvimento, que segundo o evolucionista Sean B. Carroll “possibilitam grandes revelações sobre os genes invisíveis e algumas regras simples que moldam a forma e a evolução animal”.
Referências bibliográficas
- Carroll, S.B. Infinitas formas de grande beleza: como a evolução forjou a grande quantidade de criaturas que habitam o nosso planeta. Editora Jorge Zahar, 2005.
- El-Hani, C. N., Meyer, D. A evolução da teoria Darwiniana. Scientific American Brasil Especial - Especial História da evolução, 2007.
- Motoyama, S. O nascimento da evolução biológica. Scientific American Brasil Especial - Especial História da evolução, p 45 – 53, 2007.
Oi Anna. Parabéns pelo ensaio! Achei a idéia de vocês publicarem os ensaios evolutivos no Blog muito interessante. Já inclui nos links da disciplina "Origem da Vida". Será super interessante para os alunos e estarei acompanhando. Continuem com o bom trabalho!
ResponderExcluircoloca imagens nestes texto só tá faltando isso!
ResponderExcluirsilas!